Tem-se discutido muito sobre a questão da legalização do aborto no Brasil. Muitos defendem que o mesmo não é uma questão religiosa, mas sim uma questão de saúde pública.
Primeiro, é preciso que se entenda o que é uma questão de saúde pública e o que é uma questão religiosa.
Uma epidemia se espalha por uma dada cidade - isso é uma questão de saúde pública.
A epidemia se espalhou pq não houve a devida prevenção por parte dos órgãos públicos. Então, se eu pego a epidemia, a culpa não é só minha, mas das cirscunstâncias e da falta de prevenção do governo.
A epidemia, se torna, então, um problema coletivo que precisa ser combatido.
Se eu engravido, pq esqueci de usar a camisinha com meu namorado, a culpa é do governo ou minha?
Minha, evidente. O governo não tem nada a ver com minha negligência. Então, minha gravidez não é uma questão de saúde pública.
Pois bem, os defensores do aborto tem alegado que este é uma questão de saúde pública: "As mulheres abastadas resolvem o problema em clínicas de luxo, as mais necessitadas têm que se entregar a pessoas não habilitadas... daí porque a interrupção da gravidez é uma questão de saúde pública e não religiosa. (O Globo online)"
Pelo que entendi, o problema está no fato das mulheres carentes que engravidam sem desejar terem que abortar em lugares inapropriados e com pessoas despreparadas, se expondo ao risco de morrer depois.
Concordo que aí então existe um problema de saúde pública, mas que nasce não da gravidez em si, mas da imprevidência e falta de consciência daquele que opta pelo aborto.
Qual seria a solução? Mais uma vez, educar, conscientizar, intensificar a distribuição de preservativos e, indo mais a fundo, ampliar o emprego, promover justiça social, reduzir as desigualdes, etc.
Seria uma estratégia com resultados de médio a longo prazo, pq visa criar uma conscientização na população. Uma sociedade só se transforma pela educação. Porém, qdo se decide resolver um dado problema com medidas radicais como a legalização do aborto, o problema não se resolve e talvez até piore.
Imagine a seguinte situação: o aborto foi legalizado. Todos sabemos que as famílias de classes baixas costumam ter muitos filhos.
Dona Maria engravida, e como o aborto é legal, vai numa clínica do SUS e aborta. Daqui a 4 meses engravida de novo e vai de novo abortar e daqui a 3 meses engravida de novo e de novo vai abortar e assim por diante.
Penso que falta nos políticos que defendem o aborto um conhecimento maior sobre a situação do povo brasileiro, sua cultura, seus hábitos, seu modo de vida.
Estas famílias carentes (maioria na população brasileira) costumam ter muitos filhos e as estatísticas não negam. Não se tornaria um problema de saúde pública o acesso maciço às clínicas do SUS em busca do aborto? Mais do que um problema de saúde pública, se tornaria um problema social, político e econômico. Da onde viria o $ pra fazer tanto aborto? Terá o SUS estrutura pra suportar a demanda que está por vir?
Estas são questões que precisam ser refletidas antes de se votar pela legalização do aborto.
Só a educação pode transformar um povo e resolver seus problemas mais cruciais, inclusive os problemas de saúde pública.
Agora, passando rapidamente pela questão religiosa. Antes de tudo, é preciso tirar da mente qq idéia pré-concebida. O primeiro ponto é que toda questão religiosa passa tbm por questões sociais e econômicas. Nenhuma questão religiosa é apenas é uma questão religiosa, mas uma questão moral e social tbm.
As religiões, de uma forma geral, defendem que a vida começa na concepção.
A Constituição Brasileira (CF/88) e o Código Civil (conjunto de regras que rege as relações sociais) defendem a vida desde sua concepção.
O art. 5º da CF/88 estabelece: "Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida."
Seguindo entendimento da própria doutrina e da jurisprudência (pensadores do direito e juízes), tal inviolabidade do direito à vida se estende à vida fetal. É isso mesmo, à vida do feto que começa com sua concepção.
A expressão inviolabidade remete ao entendimento do direito de não se ver violentado, agredido. Inviolável é todo aquele "que está legalmente protegido contra qualquer violência e acima da ação da justiça. (Aurélio)"
Depreende-se do texto constitucional então que o direito à vida que todos nós temos, inclusive o feto, não pode ser violado.
Pronto. Há alguma divergência entre o entendimento religioso sobre a defesa da vida e o entendimento constitucional brasileiro?
Pelo que vi não. Claro. Toda questão religiosa é tbm uma questão moral, social e econômica. Não só essa, mas muitas questões religiosas estão presentes nas leis.
Com os preconceitos derrubados então, vou falar um pouco sobre como O Espiritismo vê a questão do aborto. Mas não vou falar sobre reencarnação, nem planejamento espiritual, e sim sobre a visão espírita do sexo.
Sexo é a comunhão entre duas pessoas que visa não apenas a procriação, mas a troca de energias, altamente benéfica. É a expressão material do amor. Não é proibido, nem é feio, é lindo, mas, por ser uma troca forte de energias, deve ser realizado com cuidado.
O ser humano, em sua fase menos evoluída é predominantemente formado por institntos, sensações. Evoluindo, tem sentimentos. E o sexo é a expressão dos sentimentos mais elevados. É sinônimo de carinho, respeito, querer bem, do amor, em sua forma mais pura.
Daí a reflexão: a legalização do aborto não banalizaria ainda mais o sexo?
Se o sexo hj já é praticado de forma inconsciente por muitos, imagine se o aborto for liberado. Se ainda existe o mínimo cuidado no sexo, este cuidado deixaria de existir. Nossos jovens perderiam mais ainda a noção de responsabilidade no sexo, abrindo um campo imenso para o desvio dos valores e para a proliferação de mais doenças sexualmente transmissíveis, provocando outro problema de saúde pública.
Mais uma vez é preciso educar, não informar apenas, mas educar, formar valores morais. Uma pessoa, mesmo que seja pobre, se tiver sua educação baseada em valores morais, não vai sair por aí fazendo filho a torto e a direita, procurando clínicas de aborto.
Sexo é coisa séria e filho é coisa mais séria ainda. Não dá pra chamar um filho de problema de saúde pública, nem para resolver esse "problema" com medidas radicais, apressadas e levianas.