"Quem usa internetês, jamais terá capacidade para construir um discurso complexo"
Alê Carvalho – membro de uma comunidade do Orkut.
Oieee! Kiria fala q vc eh legaw soh ki to chatiadu neh...pq vc naum xego na hr q eu t flei?!
Peço que não estranhe a frase inicial deste meu novo artigo. Sim, eu ainda uso o corretor do Word, além de me esforçar por usar algumas regras básicas da língua portuguesa. Não, também não sou adepta de rotulações e críticas com relação a quem não faz uso das chamadas normas cultas do português.
Acontece que precisamos analisar o quanto está sendo positivo para os jovens a utilização cada vez mais abrangente do “internetês”.Tente copiar e colar a primeira frase em um novo documento de seu computador e analise quantos sublinhados em vermelho irão aparecer. Ótimo. Seu computador acaba de lhe avisar que é bem provável que as pessoas que estarão lendo esta frase, não conseguirão compreender tais palavras.
Não é à toa que existem normas e regras. Elas estão aí para que TODOS possam se beneficiar no entendimento mútuo. São as bases da comunicação bem sucedida.
Devemos levar em conta que, ao estudarmos comunicação e expressão, na atualidade, aprendemos que devemos respeitar o tipo de cultura e a região onde estão inseridos os falantes e escritores. Sem dúvida! Bem por este motivo declaro que este artigo não tem a mínima intenção de afirmar "nós" escrevemos certo, e eles, "errado".
Compreendo que aquele que não teve condições de aprender língua portuguesa na escola fará uso do que lhe passaram durante a sua vida. Ouvir algumas pessoas dizendo ou mesmo escrevendo o “nóis foi” ou o “nóis fica” não deve nos desagradar em absolutamente nada.
Da mesma maneira, os que residem em diferentes regiões deste imenso Brasil, aprendem conforme a sua cultura regional. Nada mais natural que se expressem com palavras que só são utilizadas em determinadas localidades. Não há erro nisso.
Entretanto, os jovens da atualidade, que fazem uso de uma linguagem muito diferente do que aprendem comumente nas escolas, (muitas particulares) estão – como diria um crítico de uma comunidade do orkut, “assassinando o português à tecladas”. Só que não é o português quem virá se defender de tal crime. Estes mesmos jovens certamente terão dificuldades e por si só poderão avaliar os benefícios e prejuízos causados por este costume. Respondendo à uma entrevista realizada pela revista Época, uma estudante universitária disse: “Gostaria de citar à época em que eu abreviava "que" por "q" na Internet, eu só fui mudar a minha postura em relação ao problema, a partir do momento que me dei conta de que os textos que eu escrevia para o jornal, eventualmente, continham "q" no lugar de "que".
Mas não é aí que está o maior problema. O que dizer dos que levantam a bandeira de que é preciso impor o recurso dos torpedos dos celulares, eficientes como recados rápidos, como língua única, capaz de atender a todos os altos objetivos de um sistema complexo como é o da língua portuguesa? Complicado.
Os professores também têm sentido dificuldades em sala de aula, por conta desse fenômeno: “Não há condições de tolerar o desrespeito ao idioma, principalmente dentro da sala de aula. Uma coisa é usar gírias e internetês na informalidade e com amigos. Outra é levar esses vícios para toda a comunicação", argumenta Elenice Rodrigues Lorenz, de Língua Portuguesa, Literatura e Produção Textual. Ela diz ainda que o problema está na carência do domínio da língua materna. "As pessoas não lêem, não procuram ampliar seu vocabulário, erram na regência e na concordância das frases e das palavras; têm dificuldade de conectar idéias e de interpretar textos". Para Elenice, portanto, a preocupação é "adotar" o internetês como único recurso escrito alternativo, exatamente por ser simplificado e pobre de regras gramaticais e lingüísticas.
E quando, entre os próprios jovens, surge uma crítica direcionada? Dionísio da Silva, escritor do observatório da imprensa, comenta sua satisfação ao conhecer um site criado por jovens inconformados com o internetês, o “Eu sei escrever”.http://euseiescrever.blogspot.com/criadores
Diz ele que “Era preciso avisar aos internautas, principalmente aos mais jovens, que o internetês tinha atravessado a perigosa linha vermelha que tudo desordena e vira de ponta-cabeça o que se quer: em vez de clareza, confusão; em vez de comunicação, a selva escura em que tantos já se perderam sob o disfarce da contestação por ela mesma”.
Meditemos.