segunda-feira, julho 20, 2009

Poucas coisas valem à pena...

Nos últimos dias tenho escutado muito Toquinho. Sempre gostei de Toquinho. Sua voz suave tem o incrível poder de me acalmar.
Tenho escutado ele assim: chego no trabalho, geralmente tensa. Ligo o som e coloco em Toquinho. Pronto, parece mágica. A tensão diminui.

Acho que Toquinho é um dos maiores artistas brasileiros. Sua música combina melodias harmoniosas com letras poéticas e inteligentes. Às vezes falam de coisas simples, sentimentos como o amor...

Ao que vai chegar:

"Voa, coração, a minha força te conduz
que o sol de um novo amor em breve vai brilhar
Vara a escuridão
vai onde a noite esconde a luz
Clareia seu caminho e acende seu olhar...
Voa, coração, que ele não deve demorar
e tanta coisa a mais quero lhe oferecer
O brilho da paixão
pede a uma estrela pra emprestar
e traga junto a fé num novo amanhecer
Convida as luas cheia, minguante e crescente
e de onde se planta a paz, da paz quero a raiz
E uma casinha lá onde mora o sol poente
pra finalmente a gente simplesmente ser feliz."

Isso é Toquinho!

Ontem passou uma reportagem no fantástico em que uma médica ou psicóloga, não lembro bem, falava que é provado que falar palavrão nos ajuda a superar a dor, esquecer os problemas.

Eu acho que ela deve falar muito palavrão e qdo os filhos dela falarem muito palavrão não vai poder reclamar. Com certeza, ela nunca deve ter se deixado levar pelo sentimento de ouvir uma boa música, que nos alimenta de energias positivas. Nunca deve ter reparado na ação poderosa da prece, que nos conecta ao Criador de todas as coisas e nos faz sentir filhos amados de Deus, fortes o suficiente para suportar todas as dores.

Nessas horas vejo o quanto sou feliz por sentir todas essas coisas e por ter certeza de que o palavrão é totalmente dispensável em minha vida.

"Poucas coisas valem a pena
O importante é ter prazer
Longe de mim a inveja e
a maldade escondidas na vida
Hoje estamos nós em cena
E não há tempo a perder
Pois tudo acaba mesmo sempre em despedida."

(À sombra de um jatobá - Toquinho)

Agora me digam, não é muito melhor ouvir Toquinho?! :)

Um ótimo dia a todos!

sexta-feira, fevereiro 27, 2009

Caminhos que nos conduzem a Deus...

08:20h. Finalmente! Hoje é o grande dia! Nem acredito que vou tirar uns dias de descanso. Tenho que arrumar minhas coisas, mas... o que levar? Malha de ginástica – 1º item. Vou acordar às 07h todos os dias, fazer caminhadas e depois, meditar no lago junto aos patos. Há tempos que estou pensando em entrar para algum grupo de meditação... entoar mantras, ficar em silêncio total, encontrar o Deus que há em mim. Jorge – meu entrevistador de quando entrei na Doutrina Espírita - me disse certa vez que eu pensava demais! E, pior, sem qualidade de pensamento. Considerando que isso já faz mais de 4 anos, já passou da hora de eu começar a ter domínio sobre minha mente. Estes quatro dias serão perfeitos para isso. Voltarei revitalizada e praticamente uma zen budista!

Mas ainda tenho que acabar de arrumar minhas coisas. Alguns shorts e camisetas e pronto! Afinal de contas, não vou meditar o dia inteiro... provavelmente, eles farão algumas recreações. Tenho que estar preparada.

A manhã passa voando. Estou sozinha em casa. Tenho que deixar a casa arrumada para não ser lixada quando voltar de meu encontro com Deus. Num instante e já são 15hs. Todos os carros juntos. Hora de partir.

Mil expectativas.

Chegamos, finalmente! E, numa cena de botar inveja a qualquer retirante nordestino – Severino ou não –, subimos ladeira acima cheias de sacolas, tralhas e mais tralhas nas mãos. Teve gente que levou o quarto inteiro!

Pensamentos surgem em minha mente... onde vamos dormir??

- Por favor, venham por cá. Homens aqui embaixo, mulheres no andar de cima.

O local: uma escola. Os dormitórios: as salas de aula.

Sabe aquelas cenas que vimos nos jornais sobre o alagamento de Santa Catarina? Zilhões de pessoas se espremendo, quais formiguinhas, no chão? Guardadas as devidas proporções, era, mais ou menos, isso.

Tudo bem. Afinal, se é um retiro espiritual, é bom começar trabalhando o desprendimento e a simplicidade.

18:30h. Hora do jantar: arroz, salada, pão, queijo, ovos, presunto, suco e café. Nooossa, quanta coisa! Não é nenhum hotel, mas, considerando que sou viciada em pão com queijo, está ótimo!
20h. Palestra com Divaldo Franco. Divaldo Franco é o cara! Temos que aproveitar enquanto ele está vivo. Imagina daqui a uns 50 anos, quando Divaldo for um personagem dos livros de História e meus netos me perguntarem se eu o havia conhecido e pedindo-me para contar histórias interessantes. Me faz lembrar quando eu era pequena e perguntava a meu avô – que havia nascido no sertão de Sergipe – se ele havia conhecido Lampião. E ficava decepcionada cada vez que ele respondia que, quando era pequeno, havia conhecido um homem que tinha conhecido Lampião. Ora! Conhecer um homem que havia conhecido Lampião não é a mesma coisa de conhecer Lampião. Mas eu não desistia. Sempre que lembrava, perguntava: - Vôzinho, o Sr. conheceu Lampião? Quase chegava a ouvir ele me contado histórias fantásticas do tipo: - Claro, era super amigo dele. Ele não fazia nada antes de ouvir meus conselhos. Ou: - Claro, certa vez, ele invadiu nossa cidade, mas nós resistimos bravamente e o colocamos para fora de lá. Mas, a realidade nem sempre é como nossa imaginação sonha. E a resposta era sempre a mesma: - Não, mas eu conheci um homem que o conheceu.

Affffffffffffffffffffffffffffffffffffff!!!!!!!!!!

Enfim, precisava ter coisas interessantes para contar a meus netos!

Palestra linda. Emocionante, como sempre. O tema? Bezerra de Menezes. Lindo! Lindo! Lindo!

No final, vou tirar uma foto com ele. Mas não posso chegar, tirar a foto e sair. Seria bom conversar um pouco.

Conversa: - Sr. Divaldo, parabéns pela palestra. Posso tirar uma foto com o senhor? - Claro. - Muito obrigada. Tchau!

Acho que ao todo, a “conversa” não durou mais que 30 segundos. Não tem problema. Aos meus netos, estes 30 segundos se transformarão em 30 minutos de bate-papo animadíssimo. Quase uma conversa entre velhos amigos.

21h. Hora da ceia: torta de chocolate com recheio de goiabada. Adoro chocolate e adoro goiabada.

Que ótimo isso! Adorei!

23hs. Hora de dormir. Aqui tem hora pra tudo, sabe? Desde a hora em que acordamos até a hora em que vamos dormir.

As meninas do quarto nos convidam para ler uma mensagem edificante. Lemos a mensagem, refletimos a respeito e depois me ofereço para fazer a prece. As meninas colocam a música de Ave-Maria ao fundo. Está meio alto esse som. Mas, tudo bem. Estou acostumada a dormir ouvindo Ênya.

Boa noite.

Acordo várias vezes durante a noite. Este ventilador é um saco! Sou alérgica. Não posso dormir com ventilador!

05:30h. Acordo animadíssima para nossa aula de alongamento. É a primeira atividade do dia. Depois, é a hora de fazer o evangelho. Bem propício para alguém que está à procura de Deus. Estou achando tudo lindo!

Após o evangelho, escolho tomar banho antes do café da manhã. O banho é lá embaixo, no ginásio. Para quem não conhece, a Mansão do Caminho foi construída em meio a um terreno de muita área verde. Tem até um lago com patos. E, próximo ao lago, fica o ginásio de esportes, onde ficavam também os banheiros de tomar banho. Tínhamos que andar um pouquinho até chegar lá e, na volta, subir umas ladeiras.

Mas, voltando ao banho... – ops, o que é isso? Fila pro banho! E grande, hein?! A fila até que é rápida, mas logo vou descobrir o motivo de tanta rapidez. Chega a nossa vez. Mal abro o chuveiro e... “Vamos, pessoal, ainda tem gente na fila, rapidinho, acabando o banho!” Noooossa!!!! Se meu banho durou cinco minutos foi muito! Nem Schitara (lembram da Schitara dos Thundercats? Adorava os Thundercats!) conseguiria tomar um banho tão rápido.

Agora é subir a ladeira de volta pro café da manhã. Pra descer, todo santo ajuda. Mas a subida...

Chegamos ao local do café. Não tinha mais fila, mas, em compensação... as opções eram: pão, ovo, presunto. Não gosto de presunto, a menos que seja, defumado, light, de peru. E não era o caso. Ovo? Já tinha comido na noite anterior e não costumo comer ovo em dias seguidos. Cadê o meu queijo?????

Hora de iniciar as atividades. O que será que vamos fazer agora? Será que vamos organizar uma gincana?

08h. Palestra. Tema: Saúde integral. Bem, eles não disseram nada que eu já não soubesse, mas valeu à pena relembrar alguns conceitos. Fora que os palestrantes eram engraçadíssimos.

No intervalo, resolvemos descer para o lago – eu e as meninas. Enquanto descíamos, eis que uma voz surge: - Ei, vocês aí. Não pode descer! – Ãh? – É, por aí não pode. Está proibido.

Ok. Calma. Respirar! Vamos voltar.

09:30h. Palestra de novo.

12h. Fila pro almoço. Almoço.

Precisamos pegar umas coisas no quarto. Não pode. Está trancado. Só à noite. Isso está começando a parecer um quartel.

Tentamos de novo ir ao lago. Mas, eis que uma voz surge: - Ei, vocês aí. Não pode descer! Está proibido!!

Dessa vez, não agüento: - Pô, toda hora aparece alguém pra embarreirar a gente. Isso aqui está parecendo o big brother! Saco!!!!!

Voltamos ladeira acima.

E agora? Vamos fazer o quê? Se for palestra de novo...
14h. Atividade pedagógica. Bem, agora eles devem organizar alguma gincana, campeonato...


Agora vai ficar realmente bom!!!!

Em poucos minutos, descobrimos que a atividade pedagógica nada mais é que aula de evangelização nas salas. Os meninos devem estar pirados. Quanto a mim, vou virar evangelizanda. Vamos ver no que vai dar. A primeira atividade é em duplas. Integração. Fico com um rapazinho de 19 anos, a princípio, meio desconfiado. A monitora da turma explica que as duplas deverão tomar conta um do outro durante todo o evento, qual anjo da guarda e protegido. Entendi. Eu seria anja e ao mesmo tempo protegida. Legal isso! Mas meu protegido/anjo quase não fala. Acho que tem medo de mim. Então, faço um favor a ele - falo por mim e por ele. Não sei por que, mas ele fica cada vez mais sério.

Depois, as duplas se juntam a outras duplas e fazemos o trabalho que a tia Lú pediu. Ler um texto sobre a vida de Dr. Bezerra de Menezes como médico, discutir a respeito e depois fazer um desenho. Hahahahaha... Estou me sentindo no jardim de infância!!! Um dia assim, eu agüento. Mas, três??? Com certeza, não!

A noite chega, fila pro café, pra ceia... hora para dormir. Sinto saudade de minha mãe. Começo a pensar que deveria ter ficado em casa com minha família. Tenho dado pouca atenção a eles. Acho que amanhã vou dormir em casa.

Lemos uma mensagem. Fazemos uma prece.

Boa noite.

Acordo menos durante a noite, mas ainda não durmo bem.

05:30h. Alguém me toca e diz que é hora de levantar. Tinha esquecido que aqui tem hora marcada pra tudo. Abro o olho. Está escuro ainda. Olho o relógio. P.Q.P.!!!! Não quero alongar!

Não quero ir pro evangelho! Quero dormir!!!!! Que saco... isso aqui está muito chato!!!!! Levanto-me contrariadíssima, em ritmo de tartaruga, propositadamente, para chegar atrasada ao alongamento. Estou mal-humoradíssima!!!!! Não concordo com esse modelo de atividades – palestra durante toda a manhã, evangelização à tarde. Ser obrigada a levantar às 05:30h e dormir às 0h. Não poder descer pro lago... e ainda não fiz nenhuma meditação e nenhuma caminhada com minha roupa de ginástica! Não foi isso que planejei para os meus quatro dias de encontro com Deus! Chego ao auge de minha indignação. Sinto, de novo, saudade de minha mãe.

Converso com Rafa e ele me dá carta branca para ir dormir em casa à noite.

Mas, o ser humano é um organismo complexo. E eu não fujo à regra.

Meus pensamentos começam a entrar em ação, mais uma vez. E, lembro-me de uns trechos de um livro que estou lendo: “Nas nossas vidas reais, estamos constantemente pulando de um lugar para outro para nos ajustar ao desconforto físico, emocional e psicológico – de modo a evitar a realidade da dor e do incômodo.”

É verdade. Sempre que alguma coisa nos incomoda, reagimos no sentido contrário. E estas reações são automáticas. Acontece assim comigo também. Como uma mosca que fica zumbindo em nosso ouvido. Qual a primeira reação? Dar um tapão! Ou seja, eliminar a causa do incômodo.

Segundo a tradição iogue, nunca devemos dar a nós mesmos a oportunidade de nos entregar, porque, quando agimos assim, isso se torna uma tendência. Em vez disso, precisamos treinar ficar fortes.

Lembro de novo de Jorge, meu antigo entrevistador, que sempre me dizia que eu era uma pessoa muito forte. Será? Lembro da parábola da porta-estreita. Eu não estava lá para buscar Deus dentro de mim? O caminho para Deus é difícil. É preciso fugir aos velhos padrões de pensamentos e de atitudes e fazer diferente. O momento me pedia para ser forte, para sair dos padrões, mudar de perspectiva.

Eu achava que tinha ido ao encontro para fazer companhia às meninas, meditar com os patos e caminhar ao longo do lago, mas a proposta era outra e era isso que eu precisava enxergar. Os caminhos para Deus são inúmeros e tudo o que eu precisava fazer era mudar de perspectiva. Olhar com outros olhos e aproveitar a oportunidade que a vida estava me dando.

Como no dia do fico, decido ficar. Vou ficar. Vou dormir. Acordar às 05:30h. Assistir todas as palestras, pegar fila pro banho, fila pro café, fila pro almoço, fila pro lanche, fila, fila, fila, participar da evangelização. Vou fazer tudo o que tenho para fazer e, no final, descobrir o que ganhei. Como Ulisses no caminho para Ítaca.

É. Assim sou eu. Num momento, tempestade; 10 minutos depois, a brisa leve de uma manhã de primavera. Volúvel? Talvez. Mas eu prefiro assim - uma metamorfose ambulante, como diria Raul, o Seixas, desde que isso me traga crescimento.

A segunda-feira termina ótima. Levo uma bronca de uma das organizadoras do evento por usar roupas curtas. É que meu conceito de roupa curta é bem diferente do conceito dela. Roupa curta é o que uso no carnaval e lá, estava usando roupa normal. Aliás, selecionei os maiores shorts de meu guarda-roupa. Mas, tudo bem. Lembro de Rafa, falando da importância de dar feedbacks positivos e, num impulso, peço desculpas e lhe dou um abraço. Por essa, ela não esperava.

Durmo muito bem essa noite. Acordo disposta. O dia passa bem. Meu protegido finalmente vira meu amigo e eu já estou achando as aulas de evangelização divertidíssimas. Começo a pensar a diferença que pode fazer em nossa vida quando mudamos de perspectiva. Eu havia me adaptado plenamente à proposta do encontro e, embora não tivesse a oportunidade de meditar ou de caminhar pelo lago, pude aprender muita coisa. E, durante esse aprendizado, cresci.

No final das contas, até a disciplina com os horários foi positiva. Certa vez Emmanuel disse a Chico o que ele precisaria para servir bem a Jesus através da mediunidade. Chico só precisaria de três coisas: a primeira, disciplina; a segunda, disciplina e a terceira, disciplina.

Se Chico Xavier que está a 100 anos luz de evolução na minha frente precisou de disciplina, quiçá eu. E algo me diz que estes brevíssimos dias que passamos foram apenas um pequeno treino para o que ainda está por vir na nossa longa estrada de espíritos imortais.