quarta-feira, março 17, 2010

Religião, Preconceito e Santo Daime

Não foi só a tristeza em sua família que o assassinato do cartunista Glauco e seu filho causou. De repente, as pessoas despertaram a curiosidade para a Doutrina do Saint Daime, a princípio pouco conhecida, mas muito praticada aqui no Brasil.

Algo me impressiona e entristece nessa discussão toda. A carga de preconceito que vem com os comentários sobre o episódio. Preconceito com a Doutrina do Saint Daime, com o Xamanismo e outras correntes religiosas relacionadas.

Não conheço absolutamente nada sobre estas correntes, por isso nem me atrevo a fazer qualquer comentário a respeito.

Me lembro que uma vez, um conhecido meu, pessoa muito gente boa, envolvido com algumas ações sociais, amigo de quase todos os moradores de rua de Salvador. É Verdade! Não é raro encontrá-lo sentado numa calçada escutando as lamentações dos moradores e dando dicas... procure tal posto de saúde, eu te consigo uma camisa nova amanhã, vou tentar ver isso pra vc, até livro pedem para ele e ele dá. Então, este meu conhecido, certa vez comentou para um grupo no qual eu estava presente que já havia frequentado alguns encontros da religião, tomado o chá e que tinha gostado muito. Ele explicou algumas outras coisas, mas eu não entendi direito e na hora não estava com vontade de conversar sobre o assunto, então não dei muita atenção.

Enfim, não sei se a doutrina é boa ou não - e o conceito de bom/ruim é relativo. Mas sei que vivemos num país que estabelece como direito fundamental de qualquer cidadão a liberdade de crença, que se coloca como laico, ou seja, sem religião oficial, mas que proclama no seu preâmbulo a crença em Deus.

Logo, além de ser inconstitucional, é despropositado qualquer manifestação de preconceito com a religião dos outros, qualquer comentário sem fundamento teórico.

A palavra preconceito por si só já diz o seu significado: conceito pré-estabelecido. Conceito formado antes de se conhecer o objeto/assunto de que se está falando.

Alguns podem argumentar que conhecem sim, que pesquisaram antes de falar.

Vou contar um história pra ilustrar o que quero dizer.

Sou espírita, não por tradição familiar, por imposição ou por modismo, mas por convicção plena no que a Doutrina Espírita nos traz. Então, umas amigas minhas de outra religião, querendo me "salvar" recomendaram que eu lesse uns livros sobre espiritismo para que eu pudesse ser esclareceida do horror que é essa religião. E me deram uns livros comprados na Igreja delas e escritos pelos pastores da Igreja.

Não li os livros por inteiro, mas li alguns capítulos e fiquei triste em constatar que infelizmente o que estava ali escrito era completamente diferente do que a Doutrina Espírita realmente ensina. Estava tudo distorcido, chegava a ser grotesco! Mas, quem nunca leu o Livro dos Espíritos, lendo aquilo pela primeira vez, sem ter um parâmetro mais real de comparação, lê e acredita e fica crendo em uma "verdade" totalmente sem fundamento e depois sai fazendo discurso por aí achando que tem razão.

Bem, se é pra falar de qq coisa que seja, temos que pesquisar na fonte, na origem da coisa e não em fontes secundárias que vêm com o discurso carregado de preconceito. Ou pesquisar numa fonte idônea - um relato jornalístico, por exemplo.

Assim tem que ser com qualquer religião, seja a católica, a protestante, os de origem africana, indígena, espírita, budista, muçulmana...

Engraçado que qdo dizemos isso, quem nos ouve responde que não é preconceituoso e volta e meia critica as guerras religiosas no oriente. Que autoridade pra falar das guerras religiosas tem uma pessoa que critica, faz sarcasmo, ironias e sai por aí falando do que não sabe da religião dos outros?

Não tem nenhuma. Porque esta pessoa só não entra numa guerra de verdade, por faltar ocasião para isso e por uma questão de falsa ética social.

Vamos ter mais cuidado ao falar do Saint Daime. Não é pq um cara que frequentava seus cultos cometeu um assassinato que a religião não presta.

Todos sabem que há pessoas extremamente pervesas em todas as religiões, pq isso não depende da religião, da classe ou da cor, depende dos princípios éticos que cada um traz dentro de si. E respeito pelo outro e por suas opções é um dos princípios morais mais importantes que precisamos praticar.

Bem, desabafei!

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